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cachorro





O cão (Canis lupus familiaris[1]), no Brasil também chamado de cachorro, é um mamífero canídeo e talvez o mais antigo animal domesticado pelo ser humano. Teorias postulam que surgiu do lobo cinzento no continente asiático há mais de 100 000 anos. Ao longo dos séculos, através da domesticação, o ser humano realizou uma seleção artificial dos cães por suas aptidões, características físicas ou tipos de comportamentos. O resultado foi uma grande diversidade de raças caninas, as quais variam em pelagem e tamanho dentro de suas próprias raças, atualmente classificadas em diferentes grupos ou categorias. As designações vira-lata (no Brasil) ou rafeiro (em Portugal) são dadas aos cães sem raça definida ou mestiços descendentes.

Com expectativa de vida que varia entre dez e vinte anos, o cão é um animal social que, na maioria das vezes, aceita o seu dono como o "chefe da matilha" e possui várias características que o tornam de grande utilidade para o homem. Possui excelente olfato e audição, é bom caçador e corredor vigoroso, relativamente dócil e leal, inteligente e com boa capacidade de aprendizagem. Deste modo, o cão pode ser adestrado para executar um grande número de tarefas úteis, como um cão de caça, de guarda ou pastor de rebanhos, por exemplo. Assim como o ser humano, também é vítima de doenças como o resfriado, a depressão e o mal de Alzheimer, bem como das características do envelhecimento, como problemas de visão e audição, artrite e mudanças de humor.

A afeição e a companhia deste animal são alguns dos motivos da famosa frase: "O cão é o melhor amigo do homem", já que não há registro de amizade tão forte e duradoura entre espécies distintas quanto a de humano e cão. Esta relação figura em filmes, livros e revistas, que citam, inclusive, diferentes relatos reais de diferentes épocas e em várias nações. Entre os cães mais famosos que viveram e marcaram sociedades estão Balto, Laika e Hachiko. Na mitologia, o Cérbero é dito um dos mais assustadores seres. No cinema, Lassie é um dos mais difundidos nomes e, na animação, Pluto, Snoopy e Scooby-Doo há décadas fazem parte da infância de várias gerações.

Origem e história da domesticação
Lobo, do qual provavelmente se originaram as raças caninas. Atualmente, este lobo é um animal ameaçado de extinção.[2]

As origens do cão doméstico baseiam-se em suposições, por se tratar de ocorrências de milhares de anos, cujos crescentes estudos mudam em ambiente e datação dos fósseis. Uma das teorias aponta para um início anterior ao processo de domesticação, apresentando a separação de lobo e cão há cerca de 135 000 anos, sob a luz dos encontrados restos de canídeos com uma morfologia próxima à do cinzento, misturados com ossadas humanas.[3] Outras, cujas cronologias são mais recentes, sugerem que a domesticação em si começou há cerca de 30 000 anos, os primeiros trabalhos caninos e o início de uma acentuada evolução entre 15 000 e 12 000, e por volta de 20% das raças encontradas atualmente, entre 10 000 e 8000 anos no Oriente Médio.[4][5] Além das imprecisões do período, há também discordâncias sobre a origem. Enquanto especula-se que os cães sejam descendentes de uma outra variação canídea, as mais aceitáveis são a descendência direta do lobo cinzento ou dos cruzamentos entre lobos e chacais.[6]

As evidências baseiam-se também em achados arqueológicos, já que foram encontrados cães enterrados com humanos em posições que sugerem afetividade.[7] Segundo estes trabalhos de pesquisa, o surgimento das variações teria ocorrido por seleção artificial de filhotes de lobos-cinzentos e chacais que viviam em volta dos acampamentos pré-históricos, alimentando-se de restos de comida ou carcaças deixadas como resíduos pelos caçadores-coletores. Os seres humanos perceberam a existência de certos lobos que se aproximavam mais do que outros e reconheceram certa utilidade nisso, pois eles alertavam para a presença de animais selvagens, como outros lobos ou grandes felinos. Mais sedentários devido ao desenvolvimento da agricultura, os seres humanos então deram um novo passo na relação com os caninos. Eventualmente, alguns filhotes foram capturados e levados para os acampamentos na tentativa de serem utilizados. Com o passar dos anos, os animais que, ao atingirem a fase adulta, mostravam-se ferozes, não aceitando a presença humana, eram descartados ou impedidos de se acasalar. Deste modo, ao longo do tempo, houve uma seleção de animais dóceis, tolerantes e obedientes aos seres humanos, aos quais era permitido o acasalamento e que, quando adultos, eram de grande utilidade, auxiliando na caça e na guarda. Esse gradual processo, baseado em tentativas e erros, levou eventualmente à criação dos cães domésticos.[8][9][4]
Exemplar em Pompeia: mosaico romano com o aviso Cave canem ("Cuidado com o cão") era um motivo popular nas vilas romanas, já que estes animais tornaram-se comuns como cães de guarda das casas.

Foi ainda durante a Pré-História que surgiram os primeiros trabalhos caninos e, com isso, começaram a fortalecer os laços com o ser humano. Cães de caça e de guarda ajudavam as tribos em troca de alimento e abrigo. Com o tempo, aperfeiçoaram o rastreio e dividiram o abate das presas com os humanos.[4] Por possuírem alta capacidade de adaptação, espalharam-se ao redor do mundo, levados durante as migrações humanas e aparecendo em antigas culturas romanas, egípcias, assírias, gaulesas e pré-colombianas, tendo então sua história contada ao lado da do homem.[10]

No Egito Antigo, os cães eram reverenciados como conhecedores dos segredos do outro mundo, bem como utilizados na caça e adorados na forma do deus Anúbis. Esta relação com os mortos teria vindo do hábito de se alimentarem dos cadáveres, assim como os chacais. No continente europeu, mais precisamente na Grécia Antiga, cães eram relacionados aos deuses da cura, com templos que abrigavam dezenas deles para que os doentes pudessem ser levados até lá e terem suas feridas lambidas. Neste período, também combateram junto aos exércitos de Alexandre, o Grande, espalhando-se pela Ásia e Europa. Na Gália, além de guardiões e caçadores, detinham a honra de serem sacrificados aos deuses e enterrados nos túmulos de seus donos. Durante o período do Império Romano, os cães, sempre fortes e de grande porte, foram utilizados para a diversão do público em grandes brigas no Coliseu de Roma.[4] Trazidos da Bretanha e da parte ocidental da Europa, eram mantidos presos e sem alimentos, para que pudessem ficar agressivos durante os espetáculos, nos quais deviam matar prisioneiros, escravos e cristãos. Sua fama ficou tão grande que as raças da época quase foram extintas, devido ao exagerado uso em guerras e apresentações.[9][11][12]
Cães têm sido criados em uma variedade de formas, cores e tamanhos tão grande que a variação pode ser ampla mesmo dentro de uma só raça, como acontece com esses Cavalier King Charles Spaniel.
Um caçador em 1885 com uma grande matilha de Beagles, uma raça de cães de caça. Em princípio, cães eram criados por suas habilidades de trabalho. Após, entraram nos lares como companheiros de vida.

Com o fim do Império Romano, o mundo entrou na fase da Idade Média, já com os cães espalhados pelo continente europeu, levados pelos mercadores fenícios do Oriente Médio à região mediterrânea e adentrado a região seguindo soldados romanos. Foi nessa época que os caninos perderam o relativo prestígio de antes, já que doenças como a peste negra assolavam a Europa e eram os cães que comiam os cadáveres nas periferias das cidades. A Igreja Católica, enquanto instituição mais influente, passou a relacioná-los à morte e considerá-los criaturas das trevas. Sua mentalidade supersticiosa popularizou-os como animais de bruxas, vampiros e lobisomens. Tal influência, por incentivo da Inquisição, resultou em matanças de lobos, cães e híbridos. Indo ainda mais além, estipulou decretos que diziam que se qualquer preso acusado de bruxaria fosse visitado por um cão, gato ou pássaro, seria imediatamente considerado culpado de bruxaria e queimado na fogueira. Apesar de toda a perseguição, no fim deste momento, os cães já começavam a ser vistos como companhia infantil.[11][13]

Durante o Renascimento, a visão negativa sobre os cães foi desaparecendo, já que caíram no gosto dos nobres. Durante este período, os caninos eram utilizados para a caça esportiva e criados com cuidado dentro dos canis de cada castelo. Com as famílias livres para desenvolverem suas próprias raças, as variedades de cada região começaram a surgir. Estas novas raças eram consideradas tesouros não encontrados em nenhum outro lugar do mundo, e por isso, dadas de presente entre a nobreza, por representarem grande sinal de riqueza. Esta atitude ajudou a difundir ainda mais a variedade e a preservar determinadas raças, quando em seu lugar de origem acabavam exterminadas. Adiante, também na Europa, nasceram os cães de companhia, já que o apreço por eles crescia, conforme se via a fidelidade. Guilherme de Orange dos Países Baixos chegou a declarar que seu cão o salvou de um atentado. Ao mesmo tempo que a diversidade crescia no continente, tribos siberianas usavam seus cães para praticamente tudo, já que eram bastante fortes e úteis para locomoção e outras atividades. Estes caninos, importados da Sibéria, ajudaram o ser humano na conquista dos polos pelos primeiros homens a pisar no Polo Sul e Polo Norte, puxando seus trenós.[11]

No período das grandes navegações, os homens migraram ao Novo Mundo com seus caninos. Apesar de não serem desconhecidos dos povos pré-colombianos, a variedade o era. Também durante a conquista, a presença deste animal teve sua utilidade: nas guerras contra os nativos, farejadores eram utilizados para encontrar e matar os índios. A respeito disso, há a lenda de que, na atual República Dominicana, milhares de indígenas foram exterminados por uma tropa de 150 soldados de infantaria, trinta cavaleiros e vinte cães rastreadores.[9] Durante o século XIX, apesar de polêmicos, os treinamentos dos caninos para lutas e guerras, ganhou popularidade como na época de Alexandre. Nessa fase, algumas raças foram compostas por animais menores, mais brutos e de musculatura mais forte, como o bull terrier.[4]

No século seguinte, eventos tornaram a marcar a evolução canina. As guerras mundiais extinguiram as raças das regiões mais afetadas e ajudaram a popularizar as variedades militares, como o pastor alemão e o dobermann, enquanto rastreadores. No Japão, em plena guerra, o imperador decretou que todos os cães que não pastores alemães fossem mortos para a confecção de uniformes militares com seu couro. Devido a isso, muitos criadores de akitas cruzaram seus animais com pastores alemães, para tentar fugir ao decreto. Os resultantes destes cruzamentos, levados aos Estados Unidos pelos soldados, foram os primeiros na criação de mais uma nova raça. Foi também após as guerras mundiais que surgiram os primeiros centros de treinamento de cães-guia de cego.[11][10]

Modernamente, apesar de fazer parte da história humana desde a imagem divina aos soldados das guerras, o cão tornou-se um animal de estimação apenas no século XX, já adaptado aos modos de vida dos seres humanos, devido a sua habilidade de fazer de diversos ambientes os melhores possíveis, e ao voltar suas capacidades de aprendizado à domesticação. Diz-se que esta mútua relação entre os dois mais numerosos carnívoros do mundo deve-se à compreensão e à evolução cerebral canina em entender o que querem as pessoas.[14]
[editar] A relação entre o cão e o lobo
Cães e lobos são tão parecidos fisica e comportamentalmente, que são capazes de gerarem crias híbridas, como o chamado cão-lobo.

Levando-se em consideração os estudos que apontam o lobo como antecessor do cão, é possível traçar semelhanças e diferenças entre estas duas espécies. Os mais antigos esqueletos de cães descobertos datam de cerca de 30 000 anos depois do aparecimento do Homo sapiens, sempre exumados em associação com o resto das ossadas humanas. Aos pesquisadores, pareceu lógico associá-los aos canídeos pré-existentes, como o lobo, o chacal e o coiote. No entanto, em descobertas feitas na China, nas quais encontravam-se vestígios dos cães, o coiote e o chacal não foram identificados na região. Ainda no Oriente, notou-se as primeiras associações do homem com uma variedade de lobo com tamanho reduzido, de cerca de 150 000 anos. Nessa teoria, a ausência das duas espécies e o fato de Canis lupus e Canis (lupus) variabilis(a) terem coexistido e possivelmente reproduzido, pode confirmar a explicação do lobo como ancestral do cão, e por sob questionamentos a teoria mais difundida, do acasalamento entre o cinzento, o chacal e até mesmo, o coiote.[15] Essa hipótese, segundo estudos mais recentes, aliou-se a novas descobertas: o aparecimento de algumas raças de cães nórdicos diretamente originados do lobo; o resultado de trabalhos genéticos comparando o DNA destas espécies, que mostraram uma semelhança superior a 99,8% entre o cão e o lobo, enquanto não ultrapassa 96% entre o cão e o coiote;[16] e a existência de mais de 45 subespécies de lobos, que poderiam estar na origem da diversidade racial observada nos cães.[17]

As semelhanças entre cães e lobos dificultam os trabalhos dos arqueólogos para fazer distinção exata entre os vestígios de cada espécie, quando apresentam-se incompletos ou quando o contexto arqueológico torna a coabitação pouco provável. De certo, o cão primitivo só se diferencia do seu ancestral por alguns detalhes pouco fiáveis, como o comprimento do focinho, a angulação do stop ou particularidades na arcada dentária.[18]

O lobo-cinzento, que supõe-se ser a única espécie de lobo tendo o cão como uma de suas subespécies,[19] é um canídeo selvagem que vive em alcateias. Fisicamente, pode atingir 2 m de comprimento e pesar mais de 60 kg. Suas cerca de quinze subespécies habitam florestas ou planícies da Europa, Ásia, Estados Unidos, Canadá e o norte da África, mas, em alguns lugares, como o Japão, estão à beira da extinção. Já o cão é o único canídeo domesticado pelo homem, em um processo milenar. Seu tamanho varia entre 1 - 45 kg(b), e vive tanto isolado quanto em matilhas. Sua diversidade de raças é, em boa parte, devida à seleção artificial feita pelo homem na busca de qualidades aproveitáveis e de submissão. É ainda um animal sem riscos de extinção, apesar de algumas raças não mais existirem. Em comum, além das características físicas, estes dois possuem as comportamentais e de povoamento. Suas caudas compridas são usadas para comunicação quando precisam mostrar obediência diante do dominante, por exemplo. Vigorosos, não são tão velozes quanto os felinos, mas capturam suas presas pelo cansaço da persistência. Pelo globo, dispersaram-se há milhares de anos, espalhando-se pela Ásia, Europa e África. À Oceania e às Américas, chegaram levados pelo homem.[20]
Apesar do processo de domesticação, o cão não perdeu boa parte das semelhanças com seu ancestral e com a família dos canídeos.

O modo como se alimentam também é semelhante. O lobo obtém a maior parte de sua comida caçando em grupo e atacando presas de grande porte. A competição entre seus membros leva ainda a um rápido consumo do alimento. Após matar a presa, come até se satisfazer, passando um longo período sem se alimentar. Como os antepassados, os cães domésticos comem rapidamente e poucas vezes ao dia. Essa tendência em comer muito rápido pode virar um problema, pois os cães podem se engasgar ou engolir grandes quantidades de ar. Os caninos alimentados em grupo podem apresentar as relações de dominação dos lobos e, como resultado, os dominantes obtêm a maior parte do alimento e os subordinados ficam com menos do que precisam. Como diferença, ao passo que o lobo alimenta-se do que captura, o cão doméstico usufrui de rações fabricadas especificamente para suas necessidades físicas.[21] Comunicativamente, além das comuns características básicas de uso de gestos e odores, estas duas espécies apresentam uma diferença marcante: enquanto os lobos amadurecem suas formas de comunicação conforme atingem a idade adulta, certas raças caninas resultantes de seleção artificial mantêm a forma que aprenderam enquanto filhotes. Em pesquisa realizada entre quinze raças caninas e o lupino, o descendente direto husky siberiano foi o único a confirmar igualdade nos meios de comunicação, marcando quinze pontos em quinze avaliações. Na outra ponta, o cavalier king charles spainel mostrou dois, o que ainda assim é capaz de demonstrar semelhança, já que outras raças superaram os 50% de equiparidade entre seus meios de comunicação mesmo com a interferência humana direta, que sempre busca as características que melhor lhe favoreçam, em detrimento dos instintos animais.[22] Em suma, apesar de não ser possível definir como única, a descendência direta do lobo pode ser confirmada devido as características muito semelhantes tanto físicas quanto comportamentais, ainda que a interferência humana tenha sido extrema.
[editar] Seleção artificial

Ver artigo principal: Seleção artificial

Através da seleção artificial, alguns basset hounds desenvolveram orelhas tão grandes que podem tropeçar nelas.[23]

Na seleção natural, processo proposto por Darwin, apenas os mais aptos se reproduzem e se multiplicam, eliminando assim, geração após geração, os genes problemáticos. É devido a esta razão que os animais selvagens são visivelmente saudáveis psicológica e fisicamente. Na seleção artificial, especificamente dos cães, o critério é acasalar os caninos a partir das formas físicas, chamadas morfológicas, orgânicas, chamadas fisiológicas, e mentais, conhecidas como psíquicas. Como exemplo dessas seleções está a criação das raças pequenas, resultados dos acasalamentos dos espécimes menores, independente de suas capacidades de sobrevivência. Conduzida pelo ser humano, a seleção artificial é direcional: a partir de indivíduos selecionados por suas características, tem-se as novas ninhadas, que serão novamente selecionadas, de acordo com as peculiaridades desejadas. Desta forma, os genes responsáveis pelas características escolhidas aumentam de frequência e tendem a entrar em homozigose. Ao mesmo tempo, pode-se evitar a reprodução de indivíduos que não possuam as qualidades almejadas.[23][24]

Todavia, não se obtém apenas benefícios destes cruzamentos seletivos. Juntamente com os genes das características visíveis, são repassados aqueles que, apesar de presentes, não se manifestaram no indivíduo, mas que, provavelmente, afetarão seus descendentes. Alguns acarretam propensão para males como displasia coxofemoral, surdez, miopia, diversas doenças de pele e problemas psicológicos. Disfarçadamente, há ainda um outro problema que acomete os caninos. No intuito de criar diferentes raças, o homem desenvolveu características extremas, que atrapalham o bem-estar do animal: os buldogues têm os focinhos tão achatados que não conseguem respirar normalmente; shar peis têm tanta pele extra que desenvolvem micoses e infecções nas dobras; e os border collies tornaram-se hiperativos, entre outros exemplos.[24]

Em suma, apesar do sucesso na criação de variadas raças com determinadas características físicas e mentais, como o aperfeiçoamento de cães para pastoreio, há os problemas derivados dessas seleções, que dificultam as vidas dos espécimes e lhes causam graves problemas hereditários de saúde. Para evitar estes males, é preciso não reproduzir cães com problemas psicológicos ou físicos mesmo que sejam campeões de beleza ou excelentes em alguma atividade útil ao ser humano. Apesar da possibilidade, não há registro de raça canina criada em laboratório.[23]
[editar] Etimologia e significado
Cães e gatos, ao menos no nome, tiveram uma origem comum para as línguas neolatinas.

Etimologicamente, o latim cattus designava tanto significado para cão quanto para gato. Ao longo do tempo, a palavra sofreu modificação para catulus, depois canus. Catellus, que se referia a cachorrinho, e catula, à cachorra, também derivaram dessa forma. Apenas cachorrinha teve um caminho etimológico distinto, pois veio de canícula, que significava a estrela conhecida como Sírio. Por problemas no significado, que era confundido com o da catapulta, os romanos dobraram a letra t do original catus, que foi modificando-se ao longo dos anos, passando a duas palavras para dois significados distintos e seus derivados.[25] Segundo a história semântica das palavras do português, foi constatado que, assim como as palavras mudam em sua forma e sua sintaxe através dos anos, seu significado, por vezes, vai se modificando também, em decorrência de uma série de fatores sociais e culturais. Diante disso, o vocábulo cachorro, proveniente do basco, indicava qualquer tipo de filhote, e, por um processo de restrição de significado linguístico, passou a indicar filhote de cão e o próprio cão. Essa explicação justifica o sinônimo entre as duas palavras e a adoção comum das pessoas, apesar dos significados constantes nos dicionários da língua portuguesa.[26]

Segundo o Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, na variante brasileira, cão significa mamífero canídeo, domesticado pelo homem desde tempos remotos, que atende pelo plural de cães e tem como forma feminina, cadela. Cachorro, por sua vez, entendido como sinônimo, tem cachorra como feminino e cachorros como forma plural, designa sim um cão novo, uma cria de lobo ou ainda qualquer cão. Em sentido pejorativo, o cachorro é sinônimo de canalha e aparece ainda em formas cristalizadas da gíria e de expressões populares, como "matar cachorro a grito" e "quem não tem cão, caça com gato".[27][28] Segundo o dicionário online Priberam, na variante europeia, cão possui um significado denotativo mais amplo, além dos conhecidos na variante sul-americana, com sete significados conotativos e três denotativos.[29] O mesmo se aplica a cachorro, que possui uma maior variação de significados em Portugal.[30]
[editar] Taxonomia e nomenclatura
O cão, enquanto espécie distinta do lobo, foi descrito pela primeira vez como Canis familiaris em 1758. Na imagem, um grupo de cinzentos.

O cão foi descrito por Lineu em 1758 como Canis familiaris, e considerado como uma espécie distinta do lobo, descrito também por Lineu no mesmo ano como Canis lupus.[31] Outros nomes foram descritos por Lineu, Johann Friedrich Gmelin e Charles Hamilton Smith para a mesma espécie, sendo considerados sinônimos.(c)

A ancestralidade canina vem sendo discutida e estudada desde há muitos anos. Teorias antigas sugerem uma origem proveniente do chacal-dourado[32] ou então uma origem híbrida entre várias espécies.[33][34] Um levantamento das sequências da região de controle do DNA mitocondrial em 140 cães e 162 lobos demonstrou que o lobo é o único ancestral dos cães.[35] Esta conclusão foi confirmada em outro estudo envolvendo 654 cães e 38 lobos da Eurásia.[36] Enquanto há uma aceitação do lobo como único progenitor do cão, a questão taxonômica envolvendo o reconhecimento de uma ou duas espécies distintas ainda não está resolvida.[37]

Baseado na consistência genética, Wayne considerou que o cão, apesar da diversidade em tamanho e proporção, nada mais é do que um lobo.[38] Em contraste, análises estatísticas de crânios têm repetidamente demonstrado uma separação total entre lobo e cão.[39] O conceito ecológico de espécie proposto por Van Valen foi aplicado por alguns pesquisadores para demonstrar características adaptativas específicas nos cães por viverem em um nicho antropogênico. Esta hipótese suporta o reconhecimento do Canis familiaris como uma espécie distinta do Canis lupus, apesar de uma idade de separação não superior a 12 000 a 15 000 anos atrás.[40]

Apesar de certos pesquisadores continuarem a reconhecer duas espécies distintas, [41][40] existe uma tendência recente em seguir a classificação proposta por Wozencraft (1993[42];2005[43]) que inclui o C. familiaris como uma subespécie de C. lupus.[37] Pela lei da prioridade estipulada pelo Código Internacional de Nomenclatura Zoológica, o nome C. familiaris, descrito na página 38, tem prioridade sobre C. lupus, descrito na página 39 do Systema Naturae por Linnaeus. Por questões de usabilidade e estabilidade, foi requisitado à Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica a conservação de dezessete nomes específicos baseados em espécies selvagens, entre eles o Canis lupus.[44][45]
[editar] Características

Ver artigo principal: Anatomia canina

Quando comparado fisicamente a seu ancestral, o cão possui mínimas diferenças no design genético. A estrutura óssea, os tipos de músculo, nervos e dentições, por exemplo, são idênticos. Até mesmo a pelagem é similar, já que ambos, salvo algumas exceções, possuem uma dupla camada de pelos. Como diferença acentuada, tem-se o fato dos lobos contarem com cérebro e glândulas produtoras de hormônios mais pesados, já que vivem em ambientes que requerem respostas rápidas a eventos extremos.[46][47] Mais especificamente, sua anatomia divide-se em cinco grandes áreas de estudo: a externa, a osteologia, a artrologia, a miologia e dos órgãos internos:[48]
[editar] Anatomia geral e estrutura externa
Esquema da anatomia externa comum a todas as raças caninas. Legenda: stop (1), cabeça (2), pescoço (3), ombros (4), cotovelos (5), munhecas (6), garupa (7), coxas (8), jarretes (9), boletos (10), espáduas (11), joelhos (12), patas posteriores (13) e cauda (14).

Animais quadrúpedes e digitígrados, o que lhes garante maior agilidade, são considerados os mais difundidos mamíferos domésticos e possuem várias raças adestradas para os mais diferentes fins.[48] Sua longevidade atinge os vinte anos e suas características externas, como tamanho e pelagem, são tão variadas que dificultam a descrição comum de um cão. Contudo, entre as principais características externas, iguais em todas as raças, estão o stop, a cabeça, o pescoço, as espáduas, a garupa, os ombros, a cauda, as coxas, os cotovelos, os joelhos, os jarretes, os boletos, as patas posteriores e as munhecas, como ilustra a imagem.[49] Mais detalhadamente, suas características externas dividem o corpo do animal em três áreas: na zona anterior, estão a cabeça, o pescoço, o peitoral e os membros frontais; na zona posterior, encontram-se os membros posteriores e a cauda; e nos aprumos, nota-se a posição dos membros em comparação a uma superfície horizontal, que refletem sob os elementos principais da locomoção do cão e suas aptidões, isto é, a postura de seus membros.[50] Outra característica comum é a dentição. Em geral, um cão possui um total de 42 dentes, divididos em 12 incisivos, 4 caninos, 16 pré-molares e 10 molares.[51] Sua pele, outra característica comum nestes animais, representa a maior parte de seu sistema imunológico. Ao longo dela, certas áreas mostram-se sob formas diferentes, pois têm propósitos específicos. As unhas e as patas são para a durabilidade, as orelhas para sinalização social e as glândulas da derme para demarcação pelo cheiro.[46]

Com base na diversidade, é possível classificar cães em categorias de acordo com seu peso e sua morfologia. De acordo com o peso, as raças dividem-se em quatro subcategorias: pequena (< 10 kg), média (11-25 kg), grande (26-45 kg) e gigante (> 45 kg). Na outra ponta, a classificação morfológica apresenta-se um pouco mais complexa, apesar de ter apenas três subcategorias: os cães longilíneos possuem seu comprimento superior a sua largura e espessura, e apresentam-se em formas alongadas e esbeltas; os brevilíneos são o aposto, abarcando exemplares robustos e arredondados; já os mediolíneos são o equilíbrio entre as duas classificações anteriores. Outra marcante característica, capaz de dintinguir cães dentro de sua própria raça, é a pelagem, que, variando em comprimento e tipo, gera combinações. Os comprimentos são quatro, ao passo que os tipos são cinco: sem pelo, raso, curto e semi-longo; duro, heterogêneo, liso, sedoso e lanoso.[48]
[editar] Estrutura interna
Esqueleto canino, composto por 25 partes ósseas principais, é, como em animais de semelhante estrutura, fundamental para locomoção e proteção, além de possuir outras funções primordiais.

A estrutura interna, comum a cães das mais variadas raças, é, assim como em grande parte dos mamíferos, dividida em quatro áreas maiores:[52]

A primeira delas é o esqueleto, a rígida estrutura que sustenta o corpo e desempenha as funções de proteção, movimento, reserva de elementos químicos, como o cálcio, e a produção de glóbulos vermelhos nestes animais. Nos cães, que têm ao longo do corpo um total de 25 divisões ósseas maiores, observam-se dois fenômenos durante a fase referente a pré-puberdade: o aumento da espessura e do comprimento ósseos e a calcificação total da cartilagem de conjugação. Este sistema é ainda sustentado por ligamentos e tendões fortes e elásticos.[46] O crânio, que tem por função principal a proteção do cérebro, é composto por treze ossos que se soldam logo após o nascimento e articulam-se diretamente à coluna vertebral, composta por sete vértebras cervicais, treze torácicas, sete lombares, três sacrais e um número variável de vértebras no comprimento da cauda. Já a caixa torácica é formada por dez pares de costelas, ligadas ao esterno.[53] Também partes importantes na movimentação e locomoção são as articulações caninas, divididas em dois tipos: as sinoviais, que permitem grande mobilidade e estabilidade, e as não-sinoviais, soldas ósseas ao nível da caixa craniana cuja união se dá através de um tecido fibroso.[54] Recobrindo estas duas estruturas estão os 34 músculos superficiais do cão, responsáveis por todos os movimentos voluntários ou involuntários, divididos entre estriados, lisos e cardíacos, e de funções flexoras, extensoras, abdutoras e adutoras. É na parte frontal que se encontra a maior concentração muscular dos cães.[55] Entre as peculiaridades deste sistema estão o fato de permitirem um giro da cabeça de 220º e que as patas escavem e arranhem com força.[46]
Segundo estudos no campo neurológico, o modelo cerebral do cão é igual ao do homem. A diferença reside no desenvolvimento das partes.[56]

Internamente, notam-se ainda as topografias, que têm relação com os funcionamentos e as divisões dos órgãos caninos internos. É na topografia torácica que se encontra o aparelho respiratório, composto pelas cavidades nasais, a faringe, quarenta aneis cartilaginosos formadores da traqueia, os brônquios, os bronquíolos e os alvéolos pulmonares, importantes para a vascularização dos pulmões. No tórax do canino também está o aparelho cardiovascular, cujo coração apresenta quatro cavidades, tem a forma predominante de um globo, está mais situado a esquerda do tórax e possui um tamanho que varia de 120 g à 15 kg, depenendo da raça. Este aparelho é composto ainda por outras oito partes. Já na outra topografia, a abdominal, está o aparelho digestivo, com 17 partes, que vão da boca ao ânus. As particularidades deste aparelho apresentam-se no volume considerável do estômago, devido ao regime carnívoro do animal, e na boca, cuja mastigação é pouco desenvolvida, o que deixa o trabalho digestivo quase completamente para o estômago. Também nesta área do corpo do canino, está o aparelho urinário, cuja diferença dos demais mamíferos reside no fato de um rim ser suspenso na cavidade abdominal, enquanto o outro encontra-se fixado sob a última vértebra torácica e as duas primeiras lombares. Outra peculiaridade presente neste sistema é o fato da uretra ser mais comprida e menos larga nos machos que nas fêmeas. O baço, também localizado no abdómen, é um órgão linfático que compõe o sistema de defesa do organismo, já que, quando o animal ingere mais alimentos do que pode suportar, acompanha o estômago para trás, sedendo-lhe mais espaço e evitando problemas digestivos. É ainda no baço que o sangue novo é fabricado em conjunto com a medula óssea.[46][57]
[editar] Os sentidos

Os cães pertencem à família dos canídeos, da qual fazem parte também as raposas e os lobos. Esta família de predadores possui sentidos apurados para a captura de presas e para proteção da matilha. Apesar da domesticação e do cruzamento seletivo, o que tornaram o cão menos dependente de seus sentidos, estes ainda são considerados habilidades sensoriais incríveis. Assim como em humanos e outros mamíferos, seus sentidos dividem-se em cinco:[58][59][46][60][6]
O nariz super sensível de um cachorro possui 32 vezes mais nervos olfativos que o de um ser humano.

Olfato: considerado o principal sentido canino, superior ao de todos os outros animais. Tal característica marcante advém das ramificações dos nervos olfativos na cavidade nasal, que ocupam 160 cm², enquanto no homem a área chega a 5 cm². Em outra comparação, as células olfativas do ser humano chegam a cinco milhões, enquanto em um cão atingem 220 milhões. Essencialmente farejador, o nariz do cão tem um grande número de fendas permanentes, diferentes de animal para animal, como as impressões digitais. Por essa razão, ele pode ser usado para a identificação individual. Os cães possuem trinta vezes mais sensores olfativos que um ser humano. Tal capacidade apurada permite a um cão adestrado/policial, por exemplo, localizar drogas, minas terrestres e pessoas sob escombros. É devido a suas dobras convolutas que qualquer cheiro, por mais sutil que seja, pode ser capturado.

Audição: como o olfato, é outro sentido bastante desenvolvido no canino, que, diferente do ser humano, ouve sons de alta frequência e baixo volume. Por meio de suas orelhas direcionáveis, característica esta comum aos mamíferos, são capazes de localizar com precisão a direção e a origem do som em seis centésimos de segundo. São ainda capazes de ouvir a uma distância quatro vezes superior a do ser humano. Tais características concedem-lhe úteis habilidades, como a capacidade de discernir com facilidade as palavras pronunciadas por seu dono, ainda que o tom da voz e os gestos não sejam desconsiderados.

Nos cães, a audição, para além de aguçada, é capaz também de discernir tons e as palavras pronunciadas.

Visão: este sentido difere dos humanos sob muitos aspectos. A visão noturna dos cães é muito mais apurada que a dos humanos. Seu ângulo de visão também é mais amplo, devido a posição de seus olhos, localizados ao lado da cabeça. Sua visão é bicromática (ao contrário dos humanos, que é tricromática), isto é, distinguem bem apenas o amarelo e o azul, além do branco (somatória das cores) e do preto (ausência delas). As cores vermelho, verde, rosa e laranja não são distinguidas pelos cães, que as vêem em branco ou preto.[61] Os cães são mais sensíveis a luz e ao movimento, captando, com maior facilidade, algo movendo-se no escuro. Contudo, possuem menor capacidade de foco e de diferenciar as cores. Em igual, enxergam em três dimensões. A visão é ainda responsável por transmitir certas marcas comportamentais desses animais. Enquanto fitar diretamente com os olhos significa relação de entendimento e segurança, nunca fitar significa o oposto; deslocar o olhar demonstra, além de insegurança, o medo, ao passo que o olhar fixo mostra uma possível vontade de atacar.

Tato: sentido considerado pouco desenvolvido, o tato é fundamental na relação afetiva com outros animais. Junto ao olfato, é o primeiro sentido a funcionar em um cachorro na percepção extrassensorial. Nos cães, as sensações térmicas, táteis e de dor, são percebidas pelas terminações nervosas que, densas, formam uma rede ligada à medula espinhal e ao cérebro. Ao tato está ligada a sensibilidade do animal, que sente mais o frio que o calor, respondendo com aceleração da respiração e a evaporação da água através da língua. As partes responsáveis por este sentido formam uma rede nervosa concentrada na base dos pelos, que nem sempre apresentam a mesma sensibilidade. As vibrissas, pelos longos do focinho, dos supercílios e do queixo, são particularmente providas de terminações nervosas.

Paladar: sentido pouco desenvolvido. Em relação com o homem, possui quase nove vezes a menos o número de papilas gustativas. Por isso, o sabor que os cães sentem está diretamente ligado ao odor. É também por esta razão que podem consumir diariamente o mesmo alimento.

[editar] Reprodução e esterilização
Filhote recém-nascido. Com as orelhas e os olhos ainda fechados, seus sentidos primeiros são o olfato e o tato.

É de muito tempo que a reprodução canina divide-se em assistida e natural. A primeira refere-se ao fato de o macho observar sua cadela seja em um cruzamento natural, seja em um manipulado - de fins financeiros, como uma cria de pedigree para venda ou competições, ou ainda, para seleção artificial de uma raça ou criação de uma nova, geralmente realizados através de inseminações artificiais ou cruzamentos controlados. Em relação aos animais, as fêmeas, assim como as mulheres, nascem com um determinado número de óvulos, enquanto os machos atingem a idade sênior de doze anos ainda férteis.[62]

Em um cruzamento natural, assistido ou não, o processo é iniciado na fase do cio da cadela, que dura em uma média de quinze a vinte dias, cujo ápice da fertilidade é atingido entre o 8.º e o 11.º dias.[62] A cópula então começa com uma fase de farejamento. A ereção do macho é possibilitada pela rigidez do osso peniano e pelo fluxo de sangue do tecido erétil. Com um monte bem sucedido, desencadeia-se então as contrações vaginais na fêmea que favorecem a ascensão dos espermatozóides, a manutenção da ereção e o "aprisionamento" do macho durante a ejaculação na fase prostática. Esta fase dura um mínimo de cinco minutos, embora possa atingir trinta.[63] Já a inseminação artificial, sempre assistida, é feita de três diferentes formas: com sêmen fresco, refrigerado ou congelado. Contudo, todas se caracterizam como técnicas de reprodução impossíveis de ocorrerem sem a intervenção do ser humano, que vão, desde o recolhimento do material do macho a sua introdução na fêmea.[64]
A cadela amamenta seus filhotes por um mínimo de 45 dias.

Faz parte da reprodução também a gestação, que dura em média sessenta dias e gera um número variado de filhotes, dependendo do tamanho e do sistema reprodutor da fêmea,[65] bem como os cuidados com os cachorros. A alimentação de uma cadela durante a gestação é fundamental para o nascimento de uma cria saudável. Os cuidados alimentares devem ter início antes mesmo do acasalamento e prosseguirem até o desmame dos filhotes, já que ela é bastante exigida também nesta etapa. A fêmea não deve estar gorda quando cruzar e não pode receber gorduras na alimentação, mas ao contrário, tem bastante necessidade de proteínas, cálcio e sais minerais.[66] Por fim, faz-se ainda necessária atenção aos filhotes. Nesta fase, a cadela é protetora e os amamenta por cerca de 45 dias. Aos poucos, os cachorros, que desenvolvem primeiramente o olfato e o tato junto à mãe, abrem os olhos e as orelhas, que lhes conferem dois sentidos bastante aguçados.[67][68]

Na outra ponta da reprodução está a esterilização, chamada também de castração, comum em animais domésticos e uma necessidade para o controle de animais nas cidades, geralmente abandonados nas ruas. A esterilização em si consiste na remoção cirúrgica completa dos órgãos com funções restritivamente reprodutoras. Nas fêmeas, retira-se o útero e os ovários, o que elimina os cios. Nos machos, retiram-se os testículos, deixando-se a bolsa escrotal vazia. O processo é classificado como indolor, devido a anestesia, incômodo, após o procedimento, e seguro, devido a eficácia dos resultados para o animal e para a sociedade.[69]
[editar] Envelhecimento
A aparência de um cão idoso mostra parte do focinho esbranquiçado e os olhos mais caídos.

O envelhecimento canino é um processo natural ainda não totalmente entendido, embora sabido que ocorra de modo variado, dependendo das raças e de seu porte. Enquanto um cão de médio porte vive em torno de doze anos, um gigante tem expectativa de vida mais curta. Antes, acreditava-se que estes animais envelheciam sete anos para cada ano de vida de um ser humano. No entanto, essa teoria foi revista, e mais recentemente, tenta-se comparar o estágio de desenvolvimento inicial da vida do cão com aquele dos seres humanos. De acordo com alguns resultados obtidos, raças pequenas alcançam seus tamanhos finais entre os oito e os doze meses; raças de porte médio entre doze e dezesseis meses; de porte grande entre dezesseis e dezoito meses; e as gigantes, por volta dos dois anos. Com isso, foi possível traçar um paralelo que resultou em variação de porte para porte. As raças pequenas e médias têm os cinco primeiros anos de vida para o primeiro ano humano. Deste ponto em diante, são quatro para cada ano vivido por um ser humano. Já as raças grandes e gigantes, de maturidade mais lenta, envelhecem sete e doze, respectivamente, em seu primeiro ano de vida, com cinco e sete anos a partir do segundo ano de vida, para cada tamanho.[70] Com base nessas afirmações, pode-se dizer que um chihuahua nascido no mesmo dia e ano que um homem, tenha, cinco anos mais tarde, 21.

Cães de idade avançada estão mais sujeitos a doenças, dores e alterações comportamentais. Por isso, é importante dar atenção às mudanças da idade de um cão doméstico, pois isso permite suprir novas necessidades e proporciona melhores condições de vida. Entre os principais males que podem acometer os idosos caninos estão a artrite, o mal de Alzheimer e a depressão. Esses problemas e outros, como a queda de dentes, decorrentes da idade, são diagnosticáveis desde o início pela observação das mudanças comportamentais e pela realização de constante acompanhamento veterinário. Problemas de visão e audição, quietude e esbranquiçamento e queda do pelo são fatores considerados normais, causados pelo avanço da idade.[71]
[editar] Comunicação
É durante as brincadeiras com os irmãos ou outros cachorros que os filhotes aprendem boa parte dos significados de seus meios de comunicação.

A forma de comunicação mais conhecida dos cães é o latido, apesar de chorarem, rosnarem, uivarem, cheirarem e utilizarem de sua linguagem corporal para se fazerem entender tanto para os caninos quanto para os seres humanos.[72]

A relação entre os cães ocorre, na grande maioria das vezes, de modo bem diferente da dos homens. Por conta disso, muitas vezes suas atitudes não são compreendidas, como porque se cheiram tanto, latem sem motivos, estão brincando e de repente começam a brigar. Os cães também sentem medo, ansiedade, interesse, alegria e outras emoções. E, por serem animais gregários, dedicam parte do tempo em conhecer seu status dentro da relação. No aprendizado, cães precisam do contato com outros cães para aprenderem sua linguagem. Durante as primeiras sete ou oito semanas, os cachorros aprendem toda a base da comunicação com a mãe. Se eles a machucam, ela grunhe e os afasta, e na época do desmame, mostra-se aborrecida com o ataque às mamas, por exemplo. A partir daí, o contato com os irmãos também é importante. Nas brincadeiras com outros filhotes, o cachorro aprenderá como demonstrar a dor e a brigar pela comida. De todas as formas de comunicação, a mais importante da vida do cão, entre os cães, é a corporal. Através da leitura da posição das orelhas, da cauda, dos olhos e do corpo em geral, os cães poderão identificar o estado de outro animal, como a aceitação das brincadeiras ou da dominância. O odor, também de animal para animal, é importante na comunicação para a identificação única de cada indivíduo. É através do cheiro que ainda identificam quando uma cadela está no cio ou a mensagem da urina em determinado local demarcado.[73][74]

Pelo ser humano comunicar-se verbalmente, acredita que esta seja a principal forma de comunicação canina. O latido, em geral, significa um pedido de atenção quando carentes, entediados, excitados ou sozinhos, e um alerta de perigo. Entre homem e animal, além do latido, outra forma de comunicação é o choro. Chorando, os cachorros percebem desde cedo que tanto a mãe quanto os donos lhe atendem e passam a usar disso como meio de obter atenção. Além disso, o choramingo demonstra susto com barulhos altos, como trovões. O rosnado por sua vez, é o som mais simples de se entender, tanto para os caninos, quanto para os humanos, pois significa ataque caso não haja o recuo do outro diante da posse, demarcação ou proteção. Por ser um sinal de agressividade, não costuma ser ignorado. Por fim, o uivo é um som familiar e único, que demonstra também excitação, o alerta, a solidão e o desejo. É usado quando caçam e encurralam suas presas ou só para ver se alguém aparece. Em um paralelo, o uivo é tão contagiante quanto o bocejo humano: quando um começa e outro ouve, o faz.[72] No relacionamento homem e animal, seus meios de comunicação causam problemas que geram determinadas soluções apenas para o ser humano. Entre as mais eficientes e definitivas estão o uso de coleiras anti-latidos, que associam o ato de latir com algo negativo, como jatos de citronela no focinho, e as operações que retiram as cordas vocais.[75]
[editar] Locomoção
A locomoção canina é idêntica a dos demais mamíferos: depende das estruturas óssea e muscular.

Assim como em todos os mamíferos, as funções de sustentação, proteção e locomoção são executadas pelos esqueletos ósseo e muscular. Igualmente aos seres humanos, os cães possuem estrutura básica, cujos níveis encontram-se nas alturas escapular e pélvica, uma para os membros superiores e outra para os membros inferiores. A diferença encontra-se no fato das duas alturas servirem para a locomoção canina, ao passo que só a inferior é utilizada na locomoção humana. Para andar, os caninos dependem dos graus articulares, mas principalmente do sistema neuro-muscular, que exerce as suas funções de contração e relaxamento, graças a ligação ao sistema nervoso e as superfícies articulares do esqueleto ósseo.[76] Suas patas, fundamentais na locomoção, têm nos coxins a única parte da pele com glândulas sudoríparas, o que ajuda a mante-las flexíveis. São ainda pouco sensíveis ao frio e ao calor, o que lhes ajuda quando em situações mais rigorosas,[46] bem como possuem entre quatro e cinco dedos, o que proporciona sensibilidade, adaptação e aderência muito boas. Em comparação ao cavalo, outro forte animal domesticado, o cão é ainda um melhor saltador, devido a sua musculatura, e possui uma coluna mais flexível.[77]

Nos caninos, apesar da locomoção ser algo comum a todas as raças, existem peculiaridades que acompanham o tamanho e o peso do animal. Cães como o são-bernardo são muito mais pesados que aqueles de ossos leves, como o afghan hound, e por isso, na relação com o ser humano, há de se ter cuidado quanto as práticas e trabalhos pretendidos para eles, já que muitas destas raças possuem limitações devido a seleção artificial, como o buldogue, de pernas curvadas e o dachshund, de patas curtas.[77][78]

O tipo de andar que o cão executa é a chamada andadura, aquela passada completa, quando o membro volta a assumir a mesma posição do início, no momento em que toca o solo novamente, pronto para a repetição. De acordo com visualizações e definições, o andar do cão é variado e pode ser chamado de trote, cuja passada se completa com dois tempos, ou seja, duas patas tocando o chão ao mesmo tempo; trote em diagonal, quando forem de lados opostos; passo de camelo, quando dois membros, que tocam o solo simultaneamente, forem do mesmo lado; e galope de corrida e lento, que significam os membros posteriores e os anteriores movimentando-se quase ao mesmo tempo. Todos estes tipos de andadura são muito parecidos, mas cada um reflete a postura do animal e possui um ritmo determinado pela cadência dos tempos. Independente disso, são mais fáceis de serem vistos em competições de raça.[79]
[editar] Grupos de raças

Ver artigo principal: Raças caninas

Bloco comemorativo ucraniano em homenagem aos cães. Na imagem estão presentes seis diferentes raças de seis diferentes grupos caninos.

De acordo com a Federação de Cinofilia Internacional, em francês: Fédération Cynologique Internationale, regida pela Federação Cinológica Internacional, existem onze grupos de raças oficiais, porém variados de país para país, já que cada organização internacional admite diferentes grupos para a classificação do conjunto de raças que reconhece. A oficial, por sua vez, considera "os cães que realizam o mesmo tipo de trabalho ou que tenham a mesma semelhança física, a fim de que os cinófilos possam ter mecanismos facilitados para julgamento da estrutura e dinâmica dos exemplares de cães apresentados em exposições de beleza e fundamentalmente, organizar aquelas raças que, com particularidades e utilidades similares, sejam facilmente identificadas pela sua função":[80][81][82]

Grupo 01: cães pastores e boieiros (exceto boieiros suíços)
Grupo 02: tipo pinscher e schnauzer, molossóides e boieiros suíços
Grupo 03: terriers
Grupo 04: dachshunds
Grupo 05: spitz e do tipo primitivo
Grupo 06: sabujos farejadores e raças semelhantes
Grupo 07: cães apontadores e de parar
Grupo 08: cães d'água, levantadores e retrievers
Grupo 09: cães de companhia
Grupo 10: lebréus ou galgos
Grupo 11: raças não reconhecidas pela FCI, como american pit bull terrier, dogue brasileiro, ovelheiro gaúcho e o bulldog americano.

Dentro destes grupos estão mais de quatrocentas raças ao redor do globo, que, por suas funções, dividem-se em um número variado de categorias, como de guarda, de tiro e caça, de utilidade, de luxo e de companhia. Entre as raças mais populares do mundo, eleitas no ano de 2009, estão o labrador retriever, considerado amigável e boa companhia para as crianças; o golden retriever, dito simpático, gentil e brincalhão; o yorkshire terrier, classificado como ativo e protetor apesar de seu diminuto tamanho; o pastor alemão, que figura como uma das raças mais inteligentes e leais; o beagle, visto como grande farejador; o dachshund, de corpo exótico; o boxer, ativo e leal; o poodle, ativo e companheiro; o shih tzu, dito excelente companheiro; e o schnauzer miniatura, visto como esperto e amável.[83]

Há ainda o vira-lata (Brasil), ou rafeiro (Portugal), denominações dadas aos cães ou gatos sem raça definida (SRD), como são geralmente referenciados em textos veterinários. Em geral são considerados sem raça definida os mestiços, descendentes da mescla natural e desordenada de diferentes raças

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