“É por causa da fome”, diz a voluntária Sílvia Pompeu, enquanto joga um pedaço de alimento para o animal de aparência esquelética, que devora o alimento em segundos. Macacos apáticos em jaulas imundas observam a cena.
Eles e outras dezenas de animais são os sobreviventes do zoológico do Cattoni-Tur Hotel, no centro de Salete (a 260 km de Florianópolis).
Segundo o Ibama, o local foi praticamente abandonado pelo dono, Azodir Cattoni, após o órgão interditá-lo, em dezembro. Desde então, os animais passaram a comer cada vez menos.
A eletricidade foi cortada. E sem as cercas elétricas, uma onça já pulou na jaula dos leões e foi morta. “Todo mundo corre risco de morte”, disse a analista ambiental do Ibama Gabriela Breda, que circula armada pelo zoo.
Instalado num antigo seminário, o hotel-zoo foi aberto em 2007 e passou a acumular legalmente enorme quantidade de animais. Havia mais exemplares de certas espécies do que no zoo paulistano.
“Vinham de apreensões ou foram abandonados por circos”, disse Elenice Franco, do Ibama. Segundo o órgão, os recintos são inadequados, e o acúmulo se refletiu no índice de mortalidade, que alcançou 80%. O aceitável seria até 20%.
Dos 1.100 animais que entraram lá, só 214 estavam vivos na interdição, decidida após a fuga da elefante Carla, que saiu em disparada pelas ruas e só foi capturada horas depois –hoje ela vive no Rio.
Multas aplicadas pelo Ibama somam R$ 50 mil. Agora, até o hotel está fechado.
O órgão e voluntários intervieram na semana passada. Dezenas de animais já foram levados a outros zoos, mas cerca de 40, entre macacos e avestruzes, não têm para onde ir.
Voluntários do santuário Rancho dos Gnomos, de SP, foram até os felinos –alguns até rezam para tranquilizá-los. “Esse vai precisar de muitas preces”, disse Sandra Calado na terça passada, ao observar um tigre de bengala esquelético, que não resistiu.
Azodir Cattoni não foi localizado. O Ibama diz ter sido informado de que ele está fora do país. Advogados que já o representaram não se manifestaram. No hotel ainda atuam quatro pessoas, entre elas uma irmã e um cunhado, que se recusaram a falar com a Folha.
Centenas já morreram
0 comentários:
Postar um comentário